Não é novidade alguma que toda montadora – seja ela de carros comuns, esportivos ou superesportivos – tem seus pilotos de teste. Afinal são eles quem fazem o teste de tudo que chegará ou não aos novos modelos da fábrica, além de dar a orientação necessária para os acertos que o veículo precisa para chegar às ruas e ao consumidor.
Há exemplos célebres, como Dario Benuzzi, que testa todas as Ferrari desde a Dino 246 GT, e é reverenciado pelos tifosi, ou Valentino Balboni, que de piloto de testes da Lamborghini ganhou o cargo de embaixador da marca e até um modelo feito em sua homenagem (o Gallardo LP 550-2 Valentino Balboni). Mais recentemente, na mesma Lamborghini, há Moreno Conti, que faz o que antigamente fazia Valentino Balboni. Mas há outro tipo de test-driver que também é excelente para as fábricas: os próprios pilotos de Fórmula 1.
Ao longo dos anos vários pilotos ocuparam essa função, como Ayrton Senna, Michael Schumacher, Alain Prost, Lewis Hamilton e Jenson Button e até Emerson Fittipaldi. Para as montadoras eles têm uma função duplamente útil: são excelentes para testar os esportivos, e excelentes garotos-propaganda na ocasião do lançamento dos carros.
Senna foi o principal responsável pelo desenvolvimento do Honda NSX. Como o tricampeão à época já era piloto da McLaren, que tinha motores Honda, a montadora japonesa o chamou para desenvolver o esportivo. Senna ajudou no desenvolvimento de várias áreas do carro (reza a lenda, com foco especial na suspensão), e, como resultado, o NSX é um veículo que apesar do motor “pequeno” para os padrões europeus e americanos da época, andava muito bem e era dotado de ótima estabilidade, graças à eficiência da engenharia da Honda, e à precisão de Senna nos acertos. E inclusive é lembrado por muitas pessoas como o primeiro superesportivo japonês, e também como o melhor carro da Honda.
Já Schumacher foi o responsável pelo desenvolvimento de várias Ferrari nos tempos em que correu pela Scuderia na F1, como as F430 Scuderia e Scuderia Spider 16M. Mas sua maior contribuição foi, de fato, a Enzo.
A ideia da casa de Maranello, ao fazer a Enzo, foi justamente trazer para as ruas a sensação mais próxima da condução de um Fórmula 1, fazendo menções a isso em vários campos do carro, como no design da frente e das laterais, nos comandos no volante e na geometria e construção da suspensão. Schumacher prestou um valioso apoio testando a Enzo e a aprimorando em cada campo possível.
Foi graças a ele, por exemplo, que o software de troca de marchas foi substituído, bem como outros ajustes para um uso mais “amigável” nas ruas.
Prost teve um papel mais simples, mas mesmo assim importante. Na criação do Renault Espace F1, o tetracampeão já estava afastado do circo da Fórmula 1, mas ainda mantinha estreita ligação, tanto com a equipe Williams quanto com a Renault (que, naquele tempo, eram parceiras).
E num evento restrito a jornalistas no circuito de Paul Ricard, em 1994, le petit guiou a monstruosa minivan de 800 cv naquele que foi um dos circuitos mais velozes da história da Fórmula 1. Vale lembrar que David Coulthard também fez o mesmo.
Já a McLaren, em 2010, se aproveitou do fato de ter dois campeões mundiais guiando seus bólidos nas pistas e os utilizou não só para desenvolver o MP4-12C, primeiro superesportivo de rua de Woking desde o mítico McLaren F1, mas também para fazer a publicidade dele mundo afora, como comprovam os inúmeros vídeos do Youtube que ele possui.
Foi da sensibilidade de Lewis Hamilton e Jenson Button que o carro passou a ter a precisão de uma navalha cirúrgica em curvas, graças à integração de direção e freios num sistema só, como antigamente acontecia nos próprios Fórmula 1 e foi banido.
Por fim mas não menos importante, Emerson Fittipaldi, bicampeão da F1 em 72 e 74 e da Indy em 89, usou seus mais de 40 anos de experiência no automobilismo mundial para afinar o Chevrolet Omega. O Rato afinou os 261 cavalos do sedã para reforçar o que sua origem australiana (afinal, esse Omega é um Holden de corpo e alma, ao contrário dos anteriores) nunca negou: a esportividade.
Se o carro já denota isso tendo tração traseira contra integral ou dianteira dos concorrentes, o design e a cavalaria disponível no motor só fazem reforçar essa impressão.
No grid atual da Fórmula 1 há uma infinidade de pilotos capacitados a fazer isso. Bastava as montadoras escolherem. Para citar um exemplo, a Renault (e por tabela a Nissan e a Infiniti também) tem 4 pilotos para escolher: Vitaly Petrov, Nick Heidfeld (que já estrelou um comercial do BMW M6 nos tempos de BMW Sauber), Mark Webber e Sebastian Vettel, que se tornará garoto-propaganda justamente da Infiniti, ainda que, por ora, não vá desenvolver veículos junto a ela.
Ou a Ferrari, que tem o bicampeão Fernando Alonso, e Felipe Massa, que poderiam muito bem servir para a publicidade das Ferrari, Maserati ou até dos Fiat, em último caso. Ou a Mercedes, com Nico Rosberg, Michael Schumacher (é, ele de novo...), Paul Di Resta e Adrian Sutil .
Opções as montadoras têm, é só aproveitar. E com essa relação de cooperação, seja o público, os pilotos ou as fábricas, todos só tem a ganhar.
Um comentário:
These guys are really great drivers. They are very lucky they get to try out different, exotic and awesome cars every time.
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